ZMB

Portugal, 1973

ZMB (Rui Lourenço) nasceu em Julho de 1973 no Porto, Portugal. Com a idade de oito ou nove anos, ao tentar desenhar e pintar um guarda-roupa para um trabalho a guache para a escola, sentiu-se aflito por não o conseguir realizar bem. Pediu ajuda à mãe que lhe fez um exemplo e a seguir, fez ele-próprio o seu trabalho já com confiança e aliviado do que se pode chamar de ansiedade e frustração. Hoje, ao recordar esse momento, ele sente que a paz que sente ao pintar nasceu aí. Com doze ou treze anos, inspirado em cadernetas de cromos de futebol com caricaturas, desenhou, a lápis e à vista em papel cavalinho, duas equipas de futebol completas. Um dos trabalhos foi oferecido a um colega da escola, o outro perdeu-se, ele não dava muito valor ao seu trabalho porque seus pais que eram de classe média baixa lhe ensinaram que a arte gera pobres e a vida de pintor é sofrimento. ZMB foi um bom aluno a desenho e artes visuais no ensino secundário, mas com a idade de quinze anos, ficou fascinado com a electricidade e a electrónica e pensou que queria que esse fosse o seu futuro: ser engenheiro, para ganhar bom dinheiro e bens materiais. Entrou aos dezoito anos num curso de Engenharia Electrónica e Telecomunicações na Universidade de Aveiro.

Até aí, ZMB era uma pessoa sem muitos amigos e experiências culturais ou de prazer, e um novo mundo surgiu: alguns novos amigos começaram a reunir-se em casa uns dos outros para falar de livros, de música, de arte em geral, e um pouco como oposição ao meio matemático e físico do curso que estávamos a estudar. Foi assim que ZMB começou por ser o Zombie, que colaborou em música e poesia por alturas da primeira metade da década de 90. Ou seja, começou a entrar em contradição: a ambição de tirar um curso que o fizesse rico começou a desvanecer-se na falta de paixão e na dificuldade em estudar matérias que pareciam metafísicas, tais como os números complexos e imaginários. A sua paixão era a arte. Começou a desenhar mais a sério em 1995. Frequentou na associação de estudantes um curso de iniciação à pintura de dezoito horas, onde aprendeu os materiais e como e onde comprá-los. Pintou as primeiras telas e sentiu-se extasiado. Queria ser pintor e já não engenheiro. Até aqui, sempre morara em quartos partilhados, mas no seu último ano em Aveiro, arranjou um quarto de baixo custo numa casa velha e isto deu-lhe um estúdio de pintura, deu-lhe mundo interior, deu-lhe paredes para afixar papel e pano para pintar, deu-lhe uma namorada que lhe emprestou a fundo perdido dinheiro para um mensalidade de um curso com a duração de um ano (uma aula semanal de três horas), em que ZMB se propunha estudar pintura para mais tarde concorrer à admissão na faculdade de belas-artes. Mas o mundo caiu-lhe em cima, o risco de falhar no curso de engenharia que estava a terminar, as relações difíceis com a família, amigos, professores e namoradas, a sensação que havia dentro de si uma dualidade que o alienava, o medo de não ter futuro saudável… tudo isso o levou a uma tentativa de suicídio em 1997. Recuperou sem ser internado, deixou namorada e curso de pintura, focou-se em finalizar o curso superior e nos intervalos ia pintando ou escrevendo o seu primeiro livro com o pseudónimo de Cláudio Mur. É em 1997, que ao visitar uma exposição do pintor Zé de Aveiro, que chega à fala com ele e fica impressionado pelo facto de se demorar tanto a observar as suas telas na parede da galeria, e ZMB diz-lhe que quer ser pintor com o dinheiro ganho pela engenharia. Em Outubro de 1997, aterra na Irlanda para a sua primeira experiência de trabalho oficial: multimédia trainee. Tudo mudou, os novos amigos são artistas multimédia, aprende design com eles, impressionado com a diferença em relação a Portugal vê os bares e cafés cheios de telas nas paredes, mostra o seu trabalho a um professor da escola de artes, e ele diz que o seu trabalho é duro e imperfeito, bruto, e diz também que não é preciso entrar numa escola de arte para se ser artista. ZMB regressa a Portugal ao fim de quinze meses com o desejo de singrar como artista multimédia, mas o mundo já não o compreende. Acaba alienado e hospitalizado pela primeira vez em 2000 no Hospital Conde Ferreira no Porto, onde lhe diagnosticaram esquizofrenia paranóide. No fundo, ZMB já se sentia doente há muito tempo, e até acha que chamou a loucura a si, ela veio mais cedo porque ele procurou a influência de todos os poetas e pintores romanticamente malditos. Foi por ter este sentimento que não acreditou no diagnóstico de esquizofrenia, sentia que ele próprio tinha ajudado o sistema a encarcerá-lo: entre 2000 e 2008 foi internado quatro vezes e só não foi sem-abrigo porque os seus pais nunca dele desistiram. ZMB começou a melhorar quando aceitou que talvez fosse doente e os outros o pudessem ajudar, encontrou uma companheira que lhe deu um objectivo real na vida, baixou os consumos de haxixe, tentou dar-se bem num emprego. Em 2014, reformou-se por invalidez e passou a ser pintor a tempo inteiro. É com orgulho que o diz.

ZMB é um Outsider Artist sui generis, com muito de auto-didacta na técnica utilizada mas cujo conteúdo tenta exprimir a relação do seu mundo interior com o ambiente que o rodeia, seja a obra de outros pintores, ou as referências a música e livros que vai consumindo.

Fonte: ZMB